sexta-feira, 25 de maio de 2012

O tempo


No fundo escuro de um canto da sala, penso na lucidez, que talvez exista em algum lugar, que não sei qual é. 

Lembro os tempos da minha adolescência e de como desperdicei incontáveis horas com coisas sem a mínima importância.

Tempo perdido com TV, com estudo de matérias que esqueceria no simples amanhecer do dia seguinte ao de uma prova insólita.

Olhei as flores e os pássaros, é verdade. Perdi o amor e chorei incontáveis minutos eternos, de um dia que não me vem mais a lembrança.

Corri na chuva, escorreguei na estrada do tempo e passei manteiga no pão de cada dia.

Sorri. 

Sorrisos tolos de coisas tolas, que enchem a vida de sentido.

Sim, aprendi. 

Poderia ter desperdiçado mais tempo comendo pipoca ou olhando a transformação das nuvens no céu.

Quem sabe até me perdido no olhar daquelas moças, ou sentado mais na praça e sentido o vento tênue do outono balançar aquelas árvores enormes.

O tempo peleja contra nós numa velocidade estonteante.

Quisera eu brecar o cavalo alado deste deus sombrio e montá-lo, cavalgando em um imenso mar de venturas e desventuras.

Sorrindo, chorando e sentindo. 

Vivendo a vida como ela merece ser vivida.

Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Sacrifícios


Às vezes me sinto como uma ovelha posta em holocausto para um deus pagão.
Mas de pouco em pouco os devaneios começam a desaparecer,
As formas se tornam cada vez mais nítidas.
Parece que o estado de alma que me encontrava começa a ceder.
Talvez esteja curado,
Talvez, ao invés, esteja ficando cada vez mais doente.
Talvez esta fugaz utopia, a que chamam realidade,
Seja uma mera ilusão de uma mente doentia,
Que quer acreditar que as coisas são exatamente como parecem ser.
Quem sabe este nosso mundo
Não se desfaça em linhas coloridas
Que vão ficando cada vez mais transparentes
Até desaparecer por completo em um imenso mar de cinza.
Mas fujo do que me interessa.
O que me interessa mesmo são seus cabelos negros ,
Sua pele macia,
Seu cheiro,
Seu frescor.
O que me interessa são as noites que passamos juntos,
As risadas,
O vinho com macarrão,  
O banho contigo depois do amor.
O que me interessa era poder dormir nos teus braços
E me sentir feliz apenas por estar vivo.
Apesar de toda a desigualdade,
De toda indiferença,
Quando tinha você
Sentia-me em paz.
Agora olho a noite,
A maldade humana,
A falta de interesse de uma juventude pusilânime e egoísta,  
A estupidez destes homens sortidos,
As más notícias de um mundo decrépito
Que vejo na TV.
Perdeu-se o sentido.
Mas você me fazia acreditar em algo melhor.
Hoje sentado em frente às montanhas em que nunca irei,
Observando formas naturais maravilhosas
Percebo
Que é por ti mulher
Que me sinto como uma ovelha em sacrifício a um deus pagão.   

Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Interior



Passando-se as dunas
Infinitos grãos de areia
Assoreado, talvez o vento chegue até lá
Um lugar claro
Obscurecido pelo próprio ofuscar das luzes
Estarrecido pela rigidez da luz do sol
Nas suas noites a escuridão é tão profunda,
Que não se difere o negro do branco.
Neste deserto um homem desesperado tentava acalmar-se
Como chegara até ali?
Viera sozinho?
Indagava
Chorava
Sentia que estava nu
Totalmente nu
A luz queimava seus olhos
Tentava lembrar sua vida
Não havia vida
Lembrava-se apenas de passagens sórdidas
Que teriam sido o melhor de uma existência
E o vazio que sentia por dentro
Era infinitamente maior que o deserto em que se encontrava
Porém queria viver
Queria mudar
Queria ser
Mas o medo, ah o medo!
O medo não o deixava
Medo da morte?
Não.
Medo da vida.
Da incógnita.
Da dúvida eterna que nos rodeia
E que às vezes faz valer à pena
Um fim de tarde de um domingo ocioso qualquer
E nos faz agarrar aos  últimos fiapos de esperança
O homem deitou na areia
Estava quentíssima
Queimava sua pele
Mas não se importava
Esperava
Mas o que?
Respostas?
Talvez.
Creio que não
E quando se levantava
E olhava aquele oceano de areia
Sentia-se cada vez mais insignificante
                                 E cada vez mais infinito.

Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Escrevo


É a arte que preenche o vazio que a metafísica causa em mim.
Por isso eu escrevo.
Por isso sempre escrevi.
É por não saber quem sou, o porquê e para onde, que perco incontáveis horas de minha vida a escrever.
Eu escrevo para mim.
Não para os que me lêem.
Escrevo para aplacar a minha alma e manter meu coração disperso.
Escrevo para controlar meus pensamentos.
Mantê-los calmos.
Como um deus que envia seus preceitos para acalmar a ira dos homens e resignar-se diante dele mesmo,
Numa epífania de desejos que irrompe em um mar de águas calmas.     

Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa