sábado, 29 de dezembro de 2012

Angústia



Se algo me atormenta?
Não. Nada.
Apenas a metafísica,
O medo da vida e da morte,
O escorrer do tempo,
A infindável angústia de um segundo, que, às vezes, torna insuportável a existência.

Se algo me inquieta?
Não. Nada.
Apenas as pessoas,
A inconstância de nós mesmos,
Os miseráveis dormindo nas ruas,
A arrogância e o egoísmo dos homens, que torna nossa vida cheia de farpas e contradições.   

Se algo me interessa?
Não. Nada.
A não ser seus olhos negros,
Seu sorriso aberto,
A lua e o sol,
Os dias contigo, que passaram tão rápido como um insólito pensamento.
 
Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Pôr do Sol


  A igreja da cidade de São Francisco
  Fica em frente ao velho Xico
  E de costas pra cidade.
  Seria como uma reverência divina a própria obra.
  Um acerto humano para a glória do rio.
  Por mais ou menos dois anos morei naquela cidade.
  Gostava de ficar perto das margens em frente à igreja
  E observar o esplendor daquele mar de água doce.
  Em certa época do ano,
  Quando conseguia sair do trabalho mais cedo,
  Adorava ver o pôr do sol
  E me deslumbrar com aquele magnífico tom de vermelho
  Que impregnava o azul do céu,
  Tomando como se fosse seu aquele pedaço da esfera celeste.
  Aquela bola de fogo enorme, que sucumbia rente ao horizonte,
  Deixava atordoados todos que assistiam àquele espetáculo colossal único,
  Que, no entanto, acontecia todos os dias.
  Atravessei algumas vezes até a outra margem do rio.
  Fui numa canoa apertada, na qual entrava água por todos os lados
  E o pescador, que conhecia bem o rio,
  Tirava com um copo de alumínio
  O excesso de água que entrava no barco.
  Nunca senti medo daquilo.
  Sentia-me, de certa forma, leve,
  Passando as mãos no leito do rio,
  Sentindo o frescor do vento no rosto 
  Enquanto a canoa ziguezagueava lutando contra a correnteza.
  As noites eram quentes.
  Costumávamos, eu e alguns amigos da época,
  buscar as margens para refrescar o calor
  e, diante do rio,
  pensar nas coisas,
  no dia a dia,
  falar dos amores doídos no coração,
  lembrar a saudade por estar longe de casa
  e sentir aquela euforia entristecida
  de fazer planos para quando voltássemos pra ela.
  Há alguns anos esses planos se confirmaram
  E fui embora daquela cidade.
  Entretanto, no meu coração 
  Creio que o rio abriu uma ferida,
  Que ficou profunda com a saudade dos amigos, dos amores
  E com as lembranças de estar em frente ao Velho Xico.

Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pra você que me esqueceu


  Ah! O reencontro das paixões antigas,
  Que despertam o coração inerte pelo passar do tempo
  E enche de entusiasmo uma existência,
  Embora com devaneios passageiros que nunca se realizarão
  E com a terna lembrança de dias que jamais aconteceram.
  Oh céu estrelado!
  Dai-me forças para continuar,
  Apesar desta nostalgia contemplada,
  Que aflige minha alma
  E torna meus dias cheios de emoção
  E de esperanças vãs de poder de novo olhar seus olhos negros.  

 Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

terça-feira, 12 de junho de 2012

MANHÃ DE VERÃO


    O céu azul, as ondas calmas, meu corpo levemente flutuando no mar.
    Há alguns metros as crianças brincam na areia
    E as jovens desfilam de biquíni ao calor do sol.
    O vento balança os coqueiros
    E ouço uma alegre melodia pairar no ar.
    Saio do mar.
    Sinto a areia queimando os meus pés.
    Corro.
    Olho para trás e vejo o espetáculo daquele lugar.
    Sento embaixo de um coqueiro.
    Olho o infinito.
    Abro a cerveja gelada que me espera.
    Tomo um gole.
    Sinto o frescor descer pela minha garganta
    E minha alma se acalma.  
    Mais um mergulho,
    Mais um gole de cerveja,
    Mais um olhar,
    E lá se vai a metafísica.

Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O tempo


No fundo escuro de um canto da sala, penso na lucidez, que talvez exista em algum lugar, que não sei qual é. 

Lembro os tempos da minha adolescência e de como desperdicei incontáveis horas com coisas sem a mínima importância.

Tempo perdido com TV, com estudo de matérias que esqueceria no simples amanhecer do dia seguinte ao de uma prova insólita.

Olhei as flores e os pássaros, é verdade. Perdi o amor e chorei incontáveis minutos eternos, de um dia que não me vem mais a lembrança.

Corri na chuva, escorreguei na estrada do tempo e passei manteiga no pão de cada dia.

Sorri. 

Sorrisos tolos de coisas tolas, que enchem a vida de sentido.

Sim, aprendi. 

Poderia ter desperdiçado mais tempo comendo pipoca ou olhando a transformação das nuvens no céu.

Quem sabe até me perdido no olhar daquelas moças, ou sentado mais na praça e sentido o vento tênue do outono balançar aquelas árvores enormes.

O tempo peleja contra nós numa velocidade estonteante.

Quisera eu brecar o cavalo alado deste deus sombrio e montá-lo, cavalgando em um imenso mar de venturas e desventuras.

Sorrindo, chorando e sentindo. 

Vivendo a vida como ela merece ser vivida.

Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa