segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Inverno de 2015



Da vao de 2015randa de minha casa dá pra ver a copa das árvores, que ficam em frente.

De manhã faz frio e, às vezes, vejo o nascer do sol tomando um cappuccino quente.

O vapor da bebida entra em minhas narinas e aquece minha alma com o delicioso odor do líquido.

Num destes dias de inverno, encontrei um amigo que não via há mais de dez anos.

Mais de dez anos...

Conversamos um pouco sobre nossas vidas durante o período em que não nos vemos.

Ele era um amigo querido, dos mais próximos que tive.

Passamos parte de minha infância e adolescência nos vendo quase todos os dias.

Quem diria, naquela época, que nos afastaríamos tanto?

Que ficaríamos mais de dez anos sem nos ver?

Ele sequer conhecia meus filhos, tampouco eu os dele.

Quantos amigos tive que já caíram no meu esquecimento?

Que sequer me lembro de que passaram em minha vida?

No esquecimento de quantos amigos eu próprio já cai e não resta nenhuma  lembrança de minha presença?

Quantos que convivi levaram a moeda ao barqueiro sombrio e eu sequer soube?

A vida segue sempre o seu rumo, o seu caminho inexorável.

No fim do dia, me restam o frio, um vinho e um olhar fugaz das distantes luzes que vejo de minha varanda.  


Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

sexta-feira, 20 de março de 2015

Negação



Não. 

Não falarei.

Não desperdiçarei estas linhas transcorrendo sobre o sentido da existência,

Ou qualquer confusa doutrina racionalista ou filosófica que me inquieta a alma.

Não.

Afinal, parece que no fundo não há sentido e não precisa ter sentido algum.

A vida existe em si mesma e basta.

Também não falarei sobre a solidão que sinto às seis horas da manhã,

Quando a penumbra ainda governa o 
mundo e o amanhecer com os primeiros raios de sol invade a sala e aquece um pouco o meu espírito.

Não.

Não é necessário.

Falarei de um avião de papel jogado por um menino,

Que se deslumbra com o planar do vôo fugaz do objeto,

Enchendo de êxtase o momento e de verdadeira alegria o garoto.

Creio que não é desperdício falar de bonecas,

De corridas de bicicletas,

De brincadeiras de pique esconde,   

Da alegria pura nos olhos das crianças,

Do carinho terno de uma moça ao receber sua primeira flor,

Da primeira paixão não correspondida,

Do despertar dos desejos,

Da explosão dos sentimentos num mero toque do olhar,

Do doce amargor da cevada em teus lábios molhados de cerveja.

Falarei disso,

Até que fique exausto e não consiga mais falar.       


Autor: Vinicius Tadeu Soares Barbosa

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Espaço-tempo




Às vezes olho para o passado e tudo parece tão confuso.

Uma realidade paralela que eu, talvez, tenha vivido,

Num mundo diferente do que vivo agora.

Alguns trechos são coloridos com as risadas e os sentimentos felizes,

De uma tarde ou madrugada qualquer,  

Outros, cinza.

É como se atravessasse uma barreira no espaço-tempo.

Então, tomo uma cerveja e acalmo a melancolia nostálgica dos meus sentidos,

Que se desfazem numa névoa densa, sombria e solitária,

Restando-me apenas as alegrias do torpor.

Com as gavetas de minha alma cheias dos petrechos que o tempo me relegou,

Sinto o cheiro tênue de um passado que, por tão insignificante, talvez não seja vão.




Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Meu Pequeno




Meu pequeno eu

A alegria de todos os meus dias.

Quando corre atrás do carro gritando tchau,

Sinto a felicidade de estar vivo,

Desfrutando a ingenuidade de seu sorriso verdadeiro.

As cócegas que minhas mãos lhe fazem

São as mais puras carícias que meu coração lhe deseja.

Não há metafísica quando está por perto,

Não há tristeza.

Apenas sorrisos e abraços,

Gargalhadas para que possa saltitar.  

Calça os meus sapatos e põe as minhas meias

E sai pela vida a rodar e correr, sem se preocupar com qualquer possível amanhã.

Abraça-me forte e me diz que quer dizer alguma coisa, que não sabe o que é

E sorri pra mim, porque o mundo é seu.

És meu filho,

Minha nova chance de viver,

Meu orgulho,

Minha vida.      




Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Clara





Morena Clara,
Bolachas com leite e achocolatado,
Sua risada alegre sem preocupação
A simplicidade de viver cada instante
Como se a vida fosse uma eterna descoberta.

Clara morena,
Você torna presente o amor, o personifica.
Quando chora, é o amor que chora.
Quando me olha a espreita a brincar, é o amor a rodear-me.
Quando me abraça e me enche de beijos, é o amor a me acariciar.

Morena Clara,
Que se lambuza com chocolate e com mel,
Que devora os morangos vorazmente,
Como ficar triste ao seu lado?
Como chorar quando você sorri?

Clara morena,
Dá-me seus sonhos para que eu também possa brincar,
Beije-me delicadamente para que eu possa sonhar,
Viva alegremente para que eu possa respirar,
E saiba que eternamente a minha princesa você será.    




Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Guardanapos



Às vezes me pergunto o que fizemos de nossas vidas?

Por quê desistimos de trilhar o nosso caminho?

Afinal, tudo era paixão.

Com essa máscara grudada em meu rosto,

Eu não me reconheço no espelho.

Entranho.

Sinto-me estranho.

Alheio.

Sinto-me alheio as coisas do mundo.

No meu interior as flores desabrocham,

As árvores, como no cerrado, já se renovaram.

O chão, contudo, continua queimado do grande incêndio que você causou.

Mas me arriscaria novamente.

Deixaria que as chamas me queimassem por dentro,

Para te possuir por mais um segundo.

Quando você deixou de existir, abandonei as lutas.

Entreguei-me ao vento para que me levasse, para qualquer lugar que apagasse da memória a sua lembrança.

Estranho.

Já faz tanto tempo e ainda me sinto estranho.

Talvez, dentre bilhões de estrelas em bilhões de galáxias exista algo eterno.

E o eterno viva dentro de mim.          



Autor: Vinicius Tadeu Soares Barbosa