Numa manhã de uma
quarta feira cinza,
Após o ritual que
faço todos os dias,
Deparo-me com uma de
minhas fotografias antigas.
Olho devagar para o
meu rosto mais jovem e mais magro
E ponho-me a pensar
em mim mesmo com certa nostalgia,
Que, há tempo, não
sentia.
Mas, de súbito,
emerge das profundezas de minha alma a pergunta vã que sempre me fiz.
Afinal, o que sou?
Será que sou o que
tenho?
Ou as lembranças do
passado me fazem ser eu?
Talvez seja o que
aprendi, ou as batalhas que travei,
Ou as viagens que fiz
tentando preencher sentimentos que ainda não compreendo?
Será que eu sou o
que eu creio? Ou o que eu não creio?
Quem sabe, como
querem os gurus orientais, seja eu apenas a consciência abstrata que se
encontra submersa em meus pensamentos e recordações.
Talvez seja apenas a
sorte de ter nascido aqui ou ali, no Brasil, na China ou no Oriente Médio?
Quem sabe a carga genética?
Serão meus preconceitos,
minha religião, minha orientação sexual, a razão de eu ser eu?
Talvez seja o que a
TV diz que eu sou?
Percebo que no fundo
não vale a pena gastar um pensamento com isso.
E que na verdade eu
sou o nada e sou o tudo.
E que um dia, o tudo e o nada se nivelarão em um
silêncio absurdo que me aguarda.