quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Pôr do Sol


  A igreja da cidade de São Francisco
  Fica em frente ao velho Xico
  E de costas pra cidade.
  Seria como uma reverência divina a própria obra.
  Um acerto humano para a glória do rio.
  Por mais ou menos dois anos morei naquela cidade.
  Gostava de ficar perto das margens em frente à igreja
  E observar o esplendor daquele mar de água doce.
  Em certa época do ano,
  Quando conseguia sair do trabalho mais cedo,
  Adorava ver o pôr do sol
  E me deslumbrar com aquele magnífico tom de vermelho
  Que impregnava o azul do céu,
  Tomando como se fosse seu aquele pedaço da esfera celeste.
  Aquela bola de fogo enorme, que sucumbia rente ao horizonte,
  Deixava atordoados todos que assistiam àquele espetáculo colossal único,
  Que, no entanto, acontecia todos os dias.
  Atravessei algumas vezes até a outra margem do rio.
  Fui numa canoa apertada, na qual entrava água por todos os lados
  E o pescador, que conhecia bem o rio,
  Tirava com um copo de alumínio
  O excesso de água que entrava no barco.
  Nunca senti medo daquilo.
  Sentia-me, de certa forma, leve,
  Passando as mãos no leito do rio,
  Sentindo o frescor do vento no rosto 
  Enquanto a canoa ziguezagueava lutando contra a correnteza.
  As noites eram quentes.
  Costumávamos, eu e alguns amigos da época,
  buscar as margens para refrescar o calor
  e, diante do rio,
  pensar nas coisas,
  no dia a dia,
  falar dos amores doídos no coração,
  lembrar a saudade por estar longe de casa
  e sentir aquela euforia entristecida
  de fazer planos para quando voltássemos pra ela.
  Há alguns anos esses planos se confirmaram
  E fui embora daquela cidade.
  Entretanto, no meu coração 
  Creio que o rio abriu uma ferida,
  Que ficou profunda com a saudade dos amigos, dos amores
  E com as lembranças de estar em frente ao Velho Xico.

Autor: Vinícius Tadeu Soares Barbosa